Carta aos investidores – 1º trimestre 2023

Caros cotistas, 

O primeiro trimestre de 2023 foi marcado por um ambiente adverso tanto no cenário doméstico quanto no exterior. Além da incerteza fiscal que persiste no país, o ano começou com a descoberta da fraude nas Lojas Americanas, o que impactou significativamente o mercado de crédito no Brasil. Esse episódio acentuou significativamente um quadro já bastante deteriorado da capacidade de financiamento das empresas. 

O governo finalmente apresentou sua proposta de política fiscal, sinalizando zerar o déficit público em 2024. O plano se concentra principalmente no aumento de receitas e, consequentemente, na necessidade do país crescer, dando pouca (ou nenhuma) ênfase nos gastos. Apesar do discurso de não haver criação de impostos ou majoração de alíquotas, as sinalizações indicam que veremos medidas neste sentido, haja à vista o objetivo de curto prazo de arrecadação de R$ 150 bilhões adicionais. Tais medidas podem impactar determinados setores da bolsa. 

Embora não tenha sido a proposta ideal, foi o suficiente para reduzir o prêmio de risco no mercado de juros e valorizar o real, uma vez que reduziu o temor de descontrole fiscal para os próximos 4 anos. Já a bolsa, e principalmente as empresas mais ligadas ao ciclo doméstico e sensíveis aos juros, seguem bastante pressionadas. 

O elevado volume de resgates na indústria de fundos vem colocando uma pressão extra sobre os ativos locais. As dúvidas sobre o rumo da política econômica, aliado a um ambiente de juros altos, mantém os investidores com uma postura extremamente conservadora. Apesar das perspectivas pouco animadoras, acreditamos estar próximos do início do ciclo de queda dos juros, sendo um trigger relevante para o mercado de ações. A intensidade do movimento será resultante da administração das contas públicas. Não obstante, a confirmação do fim do aperto monetário nos EUA aliviaria a pressão altista sobre a moeda americana, favorecendo o real e, consequentemente, a tarefa do Banco Central local.

No mercado externo, o começo do ano foi marcado por fortes oscilações. Após um início de ano favorável para os ativos de risco, a falência do Silicon Valley Bank e a aquisição do Credit Suisse pelo UBS geraram fortes preocupações sobre a saúde do setor financeiro e os desdobramentos nas condições de financiamento. Esta preocupação foi refletida na curva de juros americana, sinalizando um cenário recessivo adiante, diferentemente do mercado de ações que mantém a projeção de lucros inalterada, algo que não julgamos coerente. 

Nesse contexto, o tema inflação vem dando espaço para discussão sobre o ritmo de desaceleração da economia americana e se a intensidade observada seria suficiente para o FED iniciar um ciclo de corte de juros ainda este ano. De qualquer forma, 2023 deve ser marcado pelo fim do aperto monetário nos EUA.

Outro fator relevante que pode tornar ainda mais desafiadora a recuperação econômica global são as questões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e o aumento das tensões entre China e Estados Unidos. Diversas empresas americanas estão redirecionando investimentos para outras regiões do mundo, num fenômeno conhecido como “reshoring” – reposicionando a produção próxima aos locais de consumo após um longo período de transferência de produção para países com custos mais competitivos. Nesse sentido, é difícil vislumbrar que a reabertura na China tenha impacto sustentável de longo prazo nas commodities. 

Em todas as recessões nos EUA o momento ideal de comprar ações sempre foi no início do período recessivo. Isso acontece, pois o mercado antecipa e precifica esses eventos, e durante a recessão, os ativos são mais influenciados pelas expectativas de redução de juros e afrouxamento monetário do que pela atividade econômica em si. Já no Brasil, o panorama é análogo, isto é, o mercado precifica com antecedência a recessão, e quando ela se concretiza, os ativos dão início a um novo ciclo de alta, mesmo que os fundamentos econômicos ainda não estejam totalmente ajustados.

Muitas companhias listadas na bolsa já estão sendo negociadas a patamares significativamente descontados, já incorporando uma forte revisão de lucros para baixo, em muitos casos sugerindo não haver crescimento de lucro algum, e um custo de capital extremamente alto por tempo indeterminado. Assim, entendemos estar diante de uma assimetria positiva para o mercado de ações, tendo como risco um ambiente prolongado de juros elevado, caso o governo não consiga endereçar minimamente a questão fiscal.

O final do ciclo inflacionário global deverá levar os bancos centrais a encerrar o aperto monetário, o que pode iniciar um ciclo favorável para os ativos de risco a despeito de expectativas extremamente negativas.

A rentabilidade obtida no passado não representa garantia de resultados futuros. Os investimentos em fundos não são garantidos pelo administrador ou por qualquer mecanismo de seguro ou, ainda, pelo fundo garantidor de crédito. Para maiores informações acessar o site www.moat.com.br 

 

Atenciosamente,

Moat Capital

 

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