Carta aos investidores – 1º trimestre 2024

Caros cotistas,

A robustez da economia americana e o tema inteligência artificial novamente estiveram entre os principais destaques do primeiro trimestre, porém, dividindo o holofote com outro tópico sensível: a reaceleração da inflação nos EUA. Este último gerou uma reprecificação dos juros globalmente, e consequentemente, uma realocação do fluxo de capitais, prejudicando os mercados emergentes.

No Brasil, o trimestre foi marcado por uma grande frustração com os ativos de risco, saída do investidor estrangeiro e o contínuo fluxo de resgates da indústria de fundos multimercados e ações. Embora os EUA continuem drenando a liquidez global, acreditamos estar próximos de uma importante realocação de fluxo local devido às mudanças tributárias e regimentais dos fundos, assim como a maior restrição para emissões de ativos de renda fixa isentos de IR.

Apesar da má performance dos ativos brasileiros, o desempenho da economia segue surpreendendo. A atividade mais uma vez demonstra razoável vigor, especialmente em áreas ligadas à renda e ao consumo, ponto que discutimos na última carta. No início do ano, as expectativas de crescimento para 2024 giravam em torno de 1,5% e hoje já estão superiores à 2%. O El Niño, que vinha sendo apontado como o vilão da safra agrícola neste ano, deve apresentar uma intensidade menor do que a estimada inicialmente.

Estamos em um momento em que assistimos duas forças antagônicas atuando sobre o desempenho dos ativos domésticos: de um lado a surpresa positiva na inflação e no crescimento, e do outro, o aumento do custo de capital. O segundo é reflexo de uma situação de incerteza global, temor com o descontrole dos gastos públicos e ruídos advindos do governo, como o episódio de pagamentos de dividendos extraordinários da Petrobras. Até aqui, estes fatores vêm sendo preponderante na dinâmica de preços.

Sob a ótica do ciclo econômico global, o principal debate provavelmente é compreender o motivo de tamanha resiliência da economia americana. Há algumas hipóteses sobre tal força, como a poupança formada durante os anos de COVID que ainda não foi totalmente consumida, gasto fiscal elevado para um período de paz, imigração e ganho de produtividade acentuado com diversas mudanças comportamentais após a pandemia e a IA.

Em paralelo, observamos neste início de ano uma recuperação da atividade industrial, mais especificamente na China, refletida nos preços das commodities metálicas. Aqui fica um questionamento se a segunda maior economia global finalmente conseguirá se recuperar de forma mais consistente após uma longa ressaca pós pandemia.

O mercado seguirá atento ao impacto dessa dinâmica no crescimento e, principalmente, na política monetária americana. Se na virada do ano tínhamos uma perspectiva de seis cortes de juros, os prognósticos mais recentes reduziram para apenas 2 cortes, sendo que alguns já cogitam uma manutenção até o final do ano.

A complexidade do ambiente geopolítico e as eleições americanas são outros pontos cruciais ao complexo quebra-cabeça global.

Nesse contexto, apesar de nossa frustração com a intensidade do ciclo de juros global e local, observamos uma dinâmica favorável para as commodities frente ao maior crescimento global. Assim, optamos por elevar a exposição às empresas cíclicas globais, uma vez que se beneficiam dessa dinâmica e nos protegem de um eventual aumento de percepção do risco fiscal.

Tal alteração não significa que estejamos vendo poucas oportunidades nas companhias domésticas. Muito pelo contrário, seguimos com uma exposição importante neste grupo. A elevação dos prêmios da curva de juros fez com que as empresas negociassem com descontos bastante elevados em um momento de melhora de resultados – combinação rara de se observar.

Por fim, muitos dos ativos voltaram aos preços de outubro do ano passado quando vivíamos um contexto com algumas características semelhantes, isto é, elevado prêmio de risco local, juros pressionados nos EUA e inflação elevada. Acreditamos que uma pequena reversão desse movimento possa causar uma forte valorização dos ativos, conforme observado nos últimos dois meses do ano passado. Assim, seguimos posicionados entendendo que o crescimento de receita e lucro irão se sobrepor aos muitos “ruídos” do caminho.

A rentabilidade obtida no passado não representa garantia de resultados futuros. Os investimentos em fundos não são garantidos pelo administrador ou por qualquer mecanismo de seguro ou, ainda, pelo fundo garantidor de crédito. Para maiores informações acessar o site www.moat.com.br 

 

Atenciosamente,

Moat Capital

Publicações Moat