Caros cotistas,
O terceiro trimestre de 2024 sacramentou o início da queda de juros nos EUA com o FED optando por um corte mais agressivo. A interpretação do mercado é que a autoridade monetária se antecipou a uma provável desaceleração econômica, demonstrando maior preocupação com emprego em detrimento à inflação. Com essa narrativa, o mercado acionário testou novas máximas suportado pela leitura de que o FED conseguirá controlar a inflação sem provocar uma recessão econômica.
A decisão do FED gerou uma inclinação na curva das treasuries (títulos do governo americano), com o mercado sinalizando menor preocupação com uma possível recessão e maior atenção ao crescimento contínuo do déficit fiscal. Preocupação esta que é amplificada quando analisamos as agendas dos dois candidatos à presidência.
Sobre o resultado do pleito americano, os agentes econômicos atualmente não precificam riscos elevados em caso de vitória de qualquer um dos candidatos (Trump ou Kamala) dado que a chance é remota do mesmo partido vencer a eleição e as duas casas legislativas, dificultando aprovações de pontos polêmicos.
Apesar da inflação ter se tornado um tema de menor preocupação, não devemos ignorar os efeitos que as eleições americanas e o ambiente geopolítico podem gerar na dinâmica global de preços ao longo dos próximos meses.
A China teve uma mudança importante na sua postura em relação à economia. Coincidentemente (ou talvez propositalmente), após o começo da redução de juros nos EUA, a China começou uma série de estímulos tanto monetários, via queda de juros e redução de compulsórios, quanto fiscais para aliviar o forte ajuste que o setor de propriedades vem passando. Entretanto, é difícil saber o real impacto que todas as medidas podem ter no longo prazo dado que os desafios da economia são estruturais, principalmente relacionados à questão demográfica, mas certamente terá um efeito subjetivo de confiança para quebrar a dinâmica de letargia do consumidor chinês.
A junção de uma economia global com juros descendentes (e sem recessão nos EUA) aliado ao estímulo econômico chinês formam um cenário bastante favorável aos mercados emergentes.
O ambiente geopolítico segue bastante incerto e a principal consequência disso pode ser uma elevação do preço do petróleo o que pressionaria a inflação global. Por outro lado, há sinais de que a Arábia Saudita, o maior produtor, queira voltar a aumentar a produção para ganhar market share na indústria. Importante observamos a dinâmica dessa commodity, uma vez que o petróleo está ganhando cada vez mais importância na pauta de exportação brasileira e das contas públicas.
Aqui no Brasil, o mercado segue colocando em xeque, com razão, a política fiscal do governo. Apesar do arcabouço estabelecer uma meta de déficit fiscal para limitar o gasto, o governo vem abrindo exceções que minam a credibilidade dos números apresentados. Há uma série de sinalizações que mostram que a economia esteja superaquecida: crescimento do PIB elevado com algumas projeções já acima de 3% a.a., desemprego próximo das mínimas históricas e índice de importação demonstrando esgotamento da capacidade instalada. Soma-se a isso, a expansão da carteira de crédito dos bancos dado o aumento de renda dos indivíduos.
Assim, o Banco Central foi forçado a iniciar um processo de elevação da Selic, na contramão do mundo, para trazer as expectativas de inflação para próximo à meta. Essa dinâmica fez com que o juro real atingisse 6,7% a.a., patamar que não é sustentável em um horizonte de médio prazo.
Apesar dos valuations muito descontados, o custo de capital elevado inibe uma recuperação dos preços. Se não bastasse o patamar atual do juro como um grande desafio para os ativos de risco, a competição com os títulos isentos de renda fixa coloca uma camada extra de dificuldade, demonstrada nos volumes ainda elevados de saída da indústria de fundos multimercados e de ações.
O portfólio do fundo não teve grandes alterações, com preponderância das cíclicas domésticas em detrimento as globais. Não enxergamos no curto prazo algo que afete a atividade econômica de forma relevante e nem que mude significativamente uma mudança de postura do governo em relação ao gasto público. Estamos num período de melhora de margens, aumento de receita, ao mesmo tempo em que observamos uma piora no custo de capital e custo financeiro das empresas. Nos parece improvável que os juros reais fiquem alto por tanto tempo, ou teremos um ajuste forçado do governo trazendo os juros para uma trajetória mais saudável ou veremos uma saída inflacionária onde os ativos de bolsa se protegem mais que a renda fixa.
Atenciosamente,
Moat Capital